Morreu Raymond Kopa, lenda do futebol francês

Antigo futebolista tinha 85 anos.

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Raymond Kopa (à direita) com Di Stéfano em 2008 Reuters
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Jogadores do Real Madrid fazem um minuto de silêncio em honra de Kopa EPA/MARISCAL

Muitos já não se lembrarão dele, mas Raymond Kopa foi uma das lendas do futebol francês. Morreu nesta sexta-feira aos 85 anos, noticia a imprensa francesa.

Kopa foi, em 1958, o terceiro jogador a receber o prémio Bola de Ouro, depois de Stanley Matheus (1956) e Alfredo Di Stéfano (1957) terem vencido as primeiras duas edições deste troféu individual dado pela revista France Football.

Nascido numa família de imigrantes polacos, Kopa era um médio ofensivo. Representou a selecção francesa entre 1952 e 1962 (ajudando ao terceiro lugar no Mundial de 1958)  e jogou no Angers, Reims e Real Madrid, clube pelo qual conquistou três Taças dos Campeões Europeus.

Nasceu a 13 de Outubro de 1931, em Noeux-les-Mines, na região de Pas-de-Calais, no Norte de França. Com avós de origem polaca e um pai mineiro, Raymond Kopaszewski começou a mostrar interesse pelo futebol desde cedo, pese a sua figura franzina e pernas curtas. No entanto, aos 14 anos, viu-se obrigado a começar a trabalhar na mina, à semelhança do pai. Esteve lá dois anos e meio e sofreu um acidente de trabalho, o que o obrigou a amputar o dedo indicador da mão direita.

Começou a sua carreira no futebol no US Noeux-les-Mines, como amador, e no SCO Angers – equipa pela qual assinou o primeiro contrato profissional aos 18 anos. E foi num encontro amigável entre o Angers e o Stade de Reims que Kopa conseguiu entrar num dos maiores clubes de França. Assinou pelo Reims (então um clube poderoso) em 1951.

Pelo Reims conquistou dois títulos de campeão francês e levou a equipa à final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em 1956. Apesar da derrota contra o Real Madrid, este jogo valeu-lhe a transferência para o colosso espanhol, num dos negócios mais caros daquele tempo: Kopa custou aos “merengues” quase 52 milhões de antigos francos ou 80 mil euros, lembra o Le Monde.  

Foi no Real Madrid que passou a seu conhecido como “Napoleão”, por causa da sua altura (1,67m) e da sua visão de jogo. “Bastava passar a bola a Kopa que ele fintava, fintava, fintava e nunca a perdia”, conta Marquitos, um dos companheiros do francês durante os tempos no Santiago Bernabéu, ao jornal A Marca.

Ao lado de Alfredo di Stefano, no Real Madrid, foi o primeiro francês a sagrar-se campeão europeu, em 1957, título que reconquistaria em 1958 e 1959. Kopa ajudou ainda a França a ser terceira classificada no Mundial de 1958, o que também contribuiu para ter recebido o prémio Bola de Ouro de 1958.

“Não tínhamos hipóteses. Para a opinião pública nem devíamos ter passado da primeira fase”, afirmou sobre o Mundial de 1958, numa entrevista à France Football.

Nos três anos em que jogou pelo Real Madrid (saiu em 1959) conseguiu sempre o título de campeão europeu. No entanto, Kopa optou por rescindir o contrato com os madrilenos, e voltou a alinhar pelo Stade de Reims.

Fez parte da selecção francesa no campeonato da Europa de 1960 – a primeira edição desta competição – mas teve de desistir devido a uma lesão no tornozelo. Os seus últimos anos de selecção foram, também, marcados por uma relação tensa com Georges Verriest, seleccionador francês.

Em 1962 disputou o seu último jogo pelos “bleus”, contra a Hungria. Encerrava assim o seu percurso na selecção: somou 45 internacionalizações, marcou 18 golos e foi capitão – tudo entre 1952 e 1962.

Em 1963 foi suspenso durante seis meses pelo Comité Jurídico, por ter participado numa peça do semanário France Dimanche com o título “Os futebolistas são escravos”, sobre a celebração de contratos entre os clubes, sem que os jogadores fossem ouvidos. Na altura, teve o apoio do sindicato de futebolistas franceses, cujo presidente era Just Fontaine.

A primeira estrela do futebol francês gozava de uma popularidade invejável, mesmo depois de terminar a carreira, em 1967. Criou e manteve uma linha de roupa desportiva até 1991, altura em que quis gozar a reforma em Angers, no Norte de França, e na Córsega.

Em 2004, foi considerado o terceiro melhor jogador da história da selecção francesa. “Estou feliz por ser reconhecido e ter o prazer de figurar entre os cem melhores jogadores da FIFA ainda vivos”, disse à France Football.

Publicou a sua autobiografia em 2006. O lucro das vendas reverteu a favor da pesquisa sobre o cancro, doença que vitimou o filho, Denis, em 1963, quando tinha apenas quatro anos.

Em 2008 foi promovido a oficial da Legião de Honra. A sua última aparição pública aconteceu a 7 de Janeiro de 2017, no Santiago Bernabéu, antes de uma partida dos merengues contra o Granada. Cristiano Ronaldo, vencedor da Bola de Ouro de 2016, chamou algumas das lendas do Real Madrid para apresentar o seu troféu – e Kopa foi um dos escolhidos.

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